terça-feira, 18 de maio de 2010

A EDUCAÇÃO RELIGIOSA E IDADE MÉDIA E A INFLUÊNCIA DA IGREJA NO PENSAMENTO OCIDENTAL

A EDUCAÇÃO RELIGIOSA E IDADE MÉDIA E A INFLUÊNCIA DA IGREJA NO PENSAMENTO OCIDENTAL



Odilon Manske
24/08/2006



RESUMO



Educação religiosa e Idade Média e a influência da Igreja no pensamento ocidental está relacionado a um determinado período histórico, no qual a educação religiosa e suas implicações na produção de conhecimentos científicos está diretamente associada à Idade Média. Na qual, os agentes que refletiam sobre educação não o faziam para transmitir conhecimentos, movidos pela fé tinham como meta o combate à heresia e a conversão dos infiéis para o cristianismo com o objetivo de um fim maior: a salvação da alma e a vida eterna. Este estudo pretende mostrar, que os avanços e recuos na educação estavam diretamente ligados aos acontecimentos históricos da época.

Palavras-chave: Educação; Idade Média; Universidade.


1 INTRODUÇÃO

Com este trabalho pretende-se dimensionar a questão da educação na Idade Média à luz do contexto histórico em que ela ocorreu, levando em consideração todos os agentes e os diferentes grupos sociais, suas relações e seus interesses.

Ao refletir-se sobre educação neste período, sempre nos vem em mente a educação religiosa, é neste sentido que analisaremos o interrompimento dos mecanismos de transmissão de conhecimentos e o seu retorno.

Analisaremos ainda o papel da Igreja através do clero e o da burguesia, o modo como eles influenciaram a educação naquele momento, e o advento das universidades medievais como necessidade da burguesia em ascensão, que buscava o incremento e a expansão das relações de comércio com outros povos. Recorremos, para tanto, a diversas fontes historiográficas que discorrem sobre a questão.


2 TRANSIÇÃO ESCRAVAGISMO-FEUDALISMO

A Idade Média caracterizou-se com a queda do Império romano no Ocidente em 476, pelas invasões bárbaras e formação dos primeiros reinos germânicos.

A antiga ordem romana desagregou-se gerando grande insegurança nos povos frente aos novos tempos, fazendo com que muitos abandonassem as cidades em direção do interior, num processo onde todos procuravam proteção ao lado do castelo do senhor.

As cidades perderam importância. Desapareceram as escolas e o Direito Romano caiu por terra. O comércio era praticado quase que predominantemente à base de troca, levando a circulação de moedas ao desuso. A sociedade foi se tornando fundamentalmente agrária, processo que fez desaparecer o sistema escravagista que deu lugar ao trabalho dos servos, aparentemente livres, porém subordinados e dependentes dos seus senhores. Temos aí o processo que levou ao feudalismo. Segundo Aranha (2006, p. 103-104):

A sociedade feudal, essencialmente aristocrática, estabeleceu-se sob os laços da sucerania e vassalagem que entremeavam as relações entre os senhores de terra. [...] No mundo feudal, a condição social era determinada pela relação com a terra, e por isso os que eram proprietários (nobreza e clero) tinham poder e liberdade. No outro extremo, encontravam-se os servos da gleba, os despossuídos, impossibilitados de abandonar as terras do seu senhor, a quem eram obrigados a prestar serviços.

Porém cabe ressaltar, que o surgimento do feudalismo não se deu como sistema e práticas homogêneas, já que não se desenvolveu igual em todos os lugares.


3 EDUCAÇÃO NA IDADE MÉDIA

No início da Idade Média, algumas escolas romanas leigas e pagãs continuavam funcionando, contudo não existem registros da sua existência depois do século V. É possível talvez que em algumas cidades elas persistiram por mais algum tempo, levando-se em consideração de que os bárbaros preservaram algumas formas de administração dos romanos, o que exigia pessoas instruídas, que soubessem ler e escrever.

Com o passar do tempo surgiram as escolas cristãs, que resultaram na substituição dos antigos funcionários do aparato de Estado por religiosos. Período em que também vimos o surgimento dos mosteiros, que além de serem dirigidos pelo clero também serviram de porto seguro para abrigar os ascetas, ou seja, aqueles que partiam do princípio de que o corpo é o centro de todos os pecados, valorizando somente o lado espiritual, na busca incessante da realização da virtude, moralidade e retidão.

Nos mosteiros eles aprendiam o latim e as humanidades, pois era preciso instruir os novos irmãos e assim os mosteiros foram se transformando no centro da cultura medieval, monopolizando todo o saber. Verdadeiras relíquias do período clássico grego foram traduzidas para o latim e outras adaptadas e reinterpretadas à luz do cristianismo.

A partir do século VIII, intensificou-se o processo de feudalização. Os fatores que levaram a isto foi a perda de acesso ao mar mediterrâneo e como conseqüência houve uma retração econômica substancial, uma vez que o comércio ficou relegado à área continental da Europa Ocidental. Como reflexo, a educação foi remetida a um longo período de ostracismo, uma vez que as pessoas perderam o interesse por ler e escrever, permanecendo somente a educação religiosa .

Esta realidade iria mudar somente com o renascimento carolíngio. Sob influência do Imperador Carlos Magno, cujo interesse era o de reformar a vida eclesiástica e a partir dela o sistema de ensino, trazendo para o seu reino expoentes da intelectualidade de então, que contribuíram para o advento de um novo movimento, cujo objetivo era difundir o ensino.

O conteúdo do ensino difundido, era o estudo das sete artes liberais divididas entre o trivium (gramática, retórica e dialética), que compreendia o ensino médio e o quadrivium (geometria, aritmética, astronomia e música), relativo ao ensino superior.

Com a liberação do acesso ao mar mediterrâneo no século XI, cujo crédito se deve às Cruzadas, reiniciou-se o desenvolvimento do comércio, levando ao renascimento das cidades e o surgimento da burguesia.

Essas mudanças repercutiram também na educação. Até então ela era privilégio dos clérigos. A formação dos leigos era restrita à instrução religiosa.

Por volta do século XII assistimos ao advento das escolas nas cidades, nas quais os professores eram nomeados pelas autoridades municipais. O latim foi substituído pela língua nacional e no conteúdo foram introduzidas noções de história, geografia e ciências naturais. Essas escolas, também conhecidas como escolas seculares, surgiram como necessidade da classe burguesa em ascensão, que devido à expansão do comércio marítimo necessitavam formar pessoas com conhecimentos em geografia, matemática, história, navegação e sobretudo o estudo dos idiomas nativos com os quais mantinham relações de comércio.

Ainda no século XI, sob influência da burguesia, surgem as primeiras universidades e mais de oitenta são fundadas na Europa ocidental durante o período da Idade Média.

Entre o século XI e XII as universidades transformam-se em solo fértil para toda uma fermentação intelectual. Por ser uma instituição humana, logo não era algo isolado do modo como o homem estava vivendo, assim produziu-se em seu interior homens com formas de pensar diferentes uns dos outros. A complexidade econômica e social não podia mais ser explicada sob o ponto de vista da fé, visto que os acontecimentos da época colocaram em dúvida a própria forma de explicar a realidade.

É neste contexto que a Igreja, hegemônica culturalmente e espiritualmente até então, se vê afrontada e atemorizada, lançando mão do Santo Ofício, para a partir do século XII apurar os desvios da fé. De acordo com Aranha (2006, p. 111) “ordens religiosas, sobretudo a dos dominicanos, assumiram o trabalho de manter a ortodoxia religiosa, [...] determinando a punição dos dissidentes, a queima de livros e... [sic] dos seus autores”.


4 AS SEMENTES DO RACIONALISMO

Nos últimos séculos da Idade Média houve um grande desenvolvimento social e cultural. Com a expansão das universidades a partir do século XI, a Europa ocidental experimentou uma verdadeira revolução na educação. Apesar da universidade medieval continuar sob domínio ideológico rígido do clero, havia por outro lado a representação de várias correntes e debates entre elas. O ápice de tal pluralidade ideológica e cultural foi o período áureo da Espanha muçulmana onde cristãos, judeus e islâmicos tiveram pela primeira vez e única na história um intercâmbio pacífico de idéias, desencadeando o progresso científico e cultural da Europa.

As universidades carregavam em seu bojo o germe de uma incontrolável expansão do saber. Foi através da incorporação do pensamento aristotélico no acervo cultural dominante, após um longo período de ostracismo, que a semente do racionalismo ficou definitivamente implantada na instituição medieval de ensino. O desenvolvimento deste espírito crítico, encontrou sua forma moderna com o advento do Renascimento.

Esse grande impulso da cultura européia, gerado pelos embates dentro das universidades, que sob o ponto de vista do espírito contemporâneo eram muito sutis quanto às formas e conceitos, mas que indubitavelmente desaguaram com toda sua força no Renascimento. E esta talvez seja a maior contribuição cultural da Idade Média para todo o pensamento ocidental.


5 CONCLUSÃO

Com a abordagem desse estudo, concluímos que na primeira fase da Idade Média ainda havia algumas escolas leigas e pagãs. Com o advento do feudalismo elas foram cedendo lugar às escolas cristãs, não como acontecimentos isolados, mas como reflexo das relações humanas, dos paradigmas da fé e, sobretudo dos interesses de grupos e classes sociais e de suas correlações de força no seio da sociedade medieval.

Vimos que o surgimento dos mosteiros contribuíram ainda mais para a difusão da fé e a formação do clero, uma vez que detinham todo o monopólio do saber da época, assumindo funções cada vez mais importantes no aparato do Estado, servindo unicamente aos interesses da Igreja, que disputava o poder palmo a palmo com a nobreza.

Mas, foi com o advento das universidades que a Europa Ocidental iria experimentar uma verdadeira reviravolta no ensino. Para uma compreensão mais aprofundada sobre esse processo, recomenda-se um estudo mais minucioso relativo à educação no Império Bizantino. As influências que o mesmo exerceu na universidade medieval ocidental e respectivas conseqüências no contexto histórico.


6 REFERÊNCIAS

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. História da Educação e da Pedagogia. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2006.


7 OBRAS CONSULTADAS

BURKE, P. As fortunas d'O Cortesão. São Paulo: Unesp, 1997.

LE GOFF, J. Mester e profissão segundo os manuais de confessores da Idade Média. Lisboa: Estampa, 1980.

MONTAIGNE, Michel de. Os pensadores XI. São Paulo: Abril Cultural: 1972.

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