terça-feira, 18 de maio de 2010

A IMPORTÂNCIA DA BIOTECNOLOGIA PARA OS SERES HUMANOS NAS DIFERENTES ÁREAS DE PRODUÇÃO

Artigo Acadêmico
Odilon Manske
30/08/2007



RESUMO

A importância da biotecnologia para os seres humanos nas diferentes áreas de produção diz respeito aos grandiosos avanços tecnológicos operados no campo da biologia, principalmente àqueles de aplicação prática na área da saúde, na produção de alimentos e, sobretudo no campo do meio ambiente. Com as técnicas do DNA recombinante inúmeras oportunidades estão postas sobre a mesa, resta saber se o homem saberá utilizá-las com equanimidade e sabedoria.

Palavras-chave: Transgênicos; Racionalidade; Meio ambiente.


1 INTRODUÇÃO

Com esse estudo, pretendemos abordar os desdobramentos da biotecnologia enquanto ferramenta indispensável para amenizar e quem sabe à longo prazo por termo aos múltiplos problemas relacionados a saúde, fome e degradação do meio ambiente que assolam a humanidade.

Entendemos que vivemos a grande época do alvorecer das ciências biológicas, processo iniciado com as descobertas da estrutura do DNA a nível molecular em 1953. Mas o grande salto ocorreu a partir de 1972 com o desenvolvimento do DNA recombinante.

As conseqüências que tal feito proporciona na esfera da biotecnologia, já podem ser sentidas hoje, seja na área da medicina, na produção de alimentos, como também os possíveis benefícios para o meio ambiente. Contudo, somos remetidos às entranhas de um debate que certamente aborda questões polêmicas, que tem suas prerrogativas no campo da bioética, da religião, da política, na cultura de nosso povo e na própria ciência, que pode influenciar definitivamente os rumos da biotecnologia em nosso país. Mas também, é nos dado a oportunidade única de abraçar essas inovações racionalmente com novas idéias e criatividade, ou corremos o sério risco de dormirmos no ponto e ficarmos a reboque desse processo que certamente não terá volta.

Ao analisarmos a questão das plantas transgênicas de uma forma racional, focando os diferentes problemas como fome no mundo, enfermidades, exaustão do meio ambiente que devido a demanda mundial crescente em alimentos, leva inexoravelmente ao desmatamento e desmantelamento de biomas inteiros com o propósito de expandir as áreas cultiváveis. Visto por esse ângulo, concordamos que a utilização dos transgênicos pode vir a ser uma ferramenta imprescindível para atenuar e num futuro próximo poderá ser a chave para resolver definitivamente esses problemas.

Mas da forma como é posto hoje cabe fazer alguns questionamentos que tentaremos responder ao longo desse trabalho. Ou seja, as plantas transgênicas que são produzidas hoje, principalmente em nosso país, servem de fato para amenizar os problemas citados acima? Ou servem simplesmente para atender os interesses dos grandes conglomerados econômicos que detém as patentes e o direito intelectual dos resultados das pesquisas? É possível disponibilizar os frutos da pesquisa em forma de doação para regiões e países acometidos pela fome ou doenças crônicas provenientes de déficit nutricional? No uso destas tecnologias existem riscos reais para a saúde humana a curto e longo prazo? A biodiversidade do planeta pode ser ameaçada pela contaminação e pelo fluxo gênico?


2 OS RECURSOS DA BIOTECNOLOGIA NESTE INÍCIO DE SÉCULO

O surgimento da biotecnologia relaciona-se a um longo período de pesquisas e estudos principalmente na área da genética. Neste contexto podemos dizer que suas raízes remontam aos descobrimentos de Mendel em 1863, que realizou experiências com cruzamento entre pés de ervilha e concluiu acertadamente que as características da planta mãe eram passadas para as culturas filhas. Estas características em forma de unidades biológicas distintas seriam conhecidas mais tarde como genes.

Deste período até o surgimento da biotecnologia se passaram mais de cem anos de muita pesquisa em todos os campos da biologia. Segundo Ramde (2005), “o seu nascimento ocorreu em 1972 em que os bioquímicos americanos Herbert Boyer, Paul Berg e Stanley Cohen desenvolveram o DNA recombinante, uma molécula de DNA modificada criada pela combinação do DNA de dois organismos não relacionados”.

Hoje podemos definir a biotecnologia enquanto um conjunto de técnicas biológicas desenvolvidas por meio de pesquisa básica e aplicadas à pesquisa e ao desenvolvimento de produtos. A biotecnologia diz respeito à utilização de DNA recombinante, fusão celular e novas técnicas de bioprocessamento.

A utilização dessas técnicas, representam uma verdadeira revolução no campo da biologia e as áreas de sua aplicação combinadas com os benefícios que poderão trazer para a humanidade são incontáveis. Por exemplo, com o DNA recombinate bactérias podem ser modificadas e transformadas em verdadeiras fábricas para produzir proteínas humanas essenciais, em forma de remédios, utilizadas por aqueles que apresentam déficit dessas substâncias. Hoje, essa técnica já é amplamente utilizada pela indústria farmacológica. Ou ainda, podem ser modificadas para degradar mais eficazmente poluentes altamente tóxicos para o meio ambiente, como por exemplo, derramamento de óleo nos oceanos.

As recentes pesquisas com células tronco apontam inúmeras possibilidade para o seu uso na medicina, uma vez que tem a capacidade de desenvolver-se em células específicas, podendo ser utilizadas para regeneração de tecidos e órgãos comprometidos. Assunto que suscita muita polêmica no campo da moral e da ética, relativo ao conceito do que entendemos por vida e quando ela começa.

Todavia, entendemos que posicionamentos contrários a essa técnica não podem escamotear a continuidade das pesquisas em nome da religião, ideologia ou outros credos de cunho pseudomoral, pois sabemos que existem diversas maneiras de se colher células tronco para fins de pesquisa. E, sobretudo é preciso dizer que não existe debate moral para quem está em uma cadeira de rodas ou para quem é acometido por algum tipo de câncer maligno. O que precisamos é de regulamentação urgente sobre as práticas e os métodos, não só em escala nacional, mas se faria útil uma nivelação internacional onde a ONU poderia ser o foro, para (de uma forma racional, equânime e neutra), estabelecer as regras sobre a condução das pesquisas neste campo.


3 A POLÊMICA SOBRE AS PLANTAS TRANSGÊNICAS

Há muito vem se observando debates acalorados entre os que defendem a sua utilização e os que são contra. Preocupante é quando o tema sai da esfera da discussão e parte para atos violentos, que visam a destruição física dos experimentos em realização, como foi o caso dos experimentos da Monsanto com variedades de soja transgênica no município de Não-Me-Toque/RS.

Certo é que sempre devemos desconfiar da infalibilidade das novas tecnologias, que em certos casos as conseqüências negativas podem levar muitos anos para se fazerem presentes. Exemplo disso é a questão da energia nuclear para fins pacíficos, que foi concebida dentro de padrões de absoluta segurança, porém o acidente de Chernobyl aconteceu e certamente não estava previsto enquanto fator de risco. No entanto, com toda a catástrofe que causou em termos de perdas de vidas humanas, somado a isto o grande impacto ambiental, que indubitavelmente levará milhares de anos para que a natureza possa restabelecer-se, mas em momento algum se falou em abandonar esta tecnologia.

Segundo o exposto, a discussão racional e a polêmica são salutares como formas de balizar e exercer algum tipo de controle para que catástrofes não ocorram futuramente. Todos os riscos devem ser levados em consideração e muitas vezes a tomada de procedimentos de segurança custam caro. Se a sociedade não participar ativamente da tomada de decisões e impuser regras elas certamente não vão ocorrer, principalmente por dois motivos: 1) por desconhecimento dos riscos e/ou, 2) por contenção de gastos.

A polêmica levantada pelos que são contra esse tipo de tecnologia por motivos ideológicos, diz respeito a detenção das patentes e o direito intelectual do resultado das pesquisas, que segundo eles, beneficiariam somente as grandes multinacionais em detrimento dos agricultores. Podemos afirmar com toda segurança que no momento essa afirmação é uma meia verdade, uma vez que os produtores de soja transgênica, principalmente no Rio Grande do Sul, estão se beneficiando com o aumento da produtividade e redução nos custos de produção, provenientes do baixo uso de agrotóxicos, onde também ganha o meio ambiente. Sem contar a contribuição desses produtores para alavancar as economias locais que se encontram alicerçadas na produção primária.

Ainda em relação aos direitos intelectuais, a história nos mostrou que é impossível guardar segredos a sete chaves, algum dia eles virão à tona e todos poderão ser beneficiados. Pois com os avanços da biotecnologia o caminho foi mostrado, exemplo disso é a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), que no momento está desenvolvendo inúmeras pesquisas nesta área.

Porém, não podemos reduzir os benefícios das plantas transgênicas simplesmente à esfera econômica, outros benefícios talvez até mais importantes que dizem respeito a dignidade humana, seja no combate à fome, doenças crônicas provenientes de déficit nutricional, ou na alimentação funcional que pode reduzir custos com vacinas no combate a epidemias, onde os povos dos países em desenvolvimento poderão ser os grandes beneficiados.

Outra questão que chama a atenção foi o desenvolvimento do arroz dourado. Sabemos que o arroz é a principal fonte alimentar de muitos povos asiáticos. Mas, a sua deficiência em Betacaroteno precursor da vitamina A, aminoácidos importantes e as substâncias contidas que impedem a absorção de ferro pelo organismo, levam milhares de pessoas a morte e causam doenças crônicas em outras tantas como a cegueira em crianças.

Visando essas deficiências nutricionais, o biólogo suíço Ingo Petrikus e seu colega alemão Peter Beyer desenvolveram o arroz dourado. Com os métodos da engenharia genética foram introduzidos genes de outros organismos numa variedade de arroz comum que possibilitou a formação do betacaroteno, aminoácidos e a desativação de substâncias que impedem a absorção de ferro no organismo.

Estes dois cientistas doaram o resultado desta pesquisa para as autoridades das Filipinas e conseguiram comover os outros seis conglomerados agrários participantes desta pesquisa, entre eles a Bayer e a Monsanto, a desistir da proteção de patentes e taxas de licença, para que este alimento tão importante para esses povos pudesse ser oferecido a preços módicos de mercado. Com isso cai por terra o argumento dos ideologisados de que os transgênicos são muito caros para a agricultura de subsistência.

Em relação aos possíveis danos para a saúde humana no consumo desses alimentos nada foi comprovado cientificamente até o momento. Em relação a isso devemos levar em consideração que a pesquisa não acontece da noite para o dia. Para um produto ser lançado no mercado são necessários anos e anos de pesquisa onde muitos fatores de risco são levados em consideração, afinal o que está em jogo é também o capital moral desses empreendimentos.

Outra questão diz respeito ao meio ambiente, dados da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), apontam para um aumento na cifra de 60% na demanda de alimentos até o ano de 2030. A disponibilidade de áreas cultiváveis é o fator limitante para a expansão da produção agropecuária. Estima-se que para alcançar estes índices seriam necessários 80% a mais de terras cultiváveis, já que estes espaços teriam que ser disponibilizados por países em desenvolvimento, que com os métodos tradicionais de cultivo, 50% das safras são perdidas em decorrência de pragas, doenças e intempéries. Neste contexto as plantas transgênicas podem desempenhar papel fundamental, uma vez que podem reunir características únicas para cada país ou região deste planeta, possibilitando safras mais rendosas em menores espaços de cultivo, sem sobrecarregar o meio ambiente.

Quanto aos riscos à biodiversidade do planeta que pode ser ocasionada pela contaminação de organismos benéficos ou pelo fluxo gênico, devemos ponderar que as cultura de risco, como por exemplo o milho Bt, devem ser submetidos a um controle rigoroso de isolamento ou através de métodos de esterilização do pólen masculino.

Infelizmente a realidade de hoje nos mostra o outro lado da moeda, os verdadeiros riscos à biodiversidade são causados pelo desmatamento e desmantelamento de biomas inteiros com o objetivo de expandir as fronteiras agrícolas para o cultivo com métodos tradicionais.


4 CONCLUSÃO

Concluímos com este trabalho que os benefícios da biotecnologia em todas as áreas de produção são inúmeras. Sua aplicabilidade no campo da medicina em forma de novos produtos farmacológicos já vem sendo usados a muito tempo e as mais recentes descobertas da pesquisa com células tronco, abrem um enorme leque de possibilidades e esperanças para quem já não tem mais esperanças.

No campo dos vegetais transgênicos uma infinidade de pesquisas estão sendo realizados em todas as partes deste planeta que poderão resolver problemas sérios como a fome, desnutrição crônica e principalmente atenuar a pressão sobre o meio ambiente.

Vimos que os benefícios obtidos na aplicação desta nova tecnologia são infimamente maiores que os malefícios e ficamos convencidos que esta tecnologia veio para ficar. Neste contexto, concluímos que o debate e as polêmicas levantadas pela sociedade são importantes para nortear os rumos e estabelecer critérios bem definidos quanto ao uso desta tecnologia, que devem ser regulamentadas na esfera federal.

Já se tratando de pesquisa com células tronco, organismos internacionais como as Nações Unidas deveriam ser o foro dos debates e, a regulamentação sobre metodologia e procedimentos deveriam ser niveladas em esfera internacional, dando chances iguais para os diferentes institutos de pesquisa nos países membros, para atuarem dentro das normas, critérios e métodos estabelecidos para todos.

Por fim, muitos assuntos relacionados à biotecnologia continuarão gerando polêmica, mas também é nossa função, enquanto futuros biólogos, o trabalho de ir esclarecendo pontualmente a sociedade dos benefícios desta grande revolução tecnológica. Para isso é necessário o nosso máximo empenho no aprofundamento dos fundamentos teóricos que regem essa tecnologia, bem como a busca constante de mais conhecimentos sobre inovações e os mais recentes avanços nesta área, seja através de bibliografia apropriada ou através da Internet, com o objetivo de estarmos à altura para intervenções claras e precisas sobre este tema.


5 REFERÊNCIAS

RAMDE, D. Nascimento da biotecnologia: utilizando o poder do DNA. Disponível em: . Acesso em: 30 de ago. 2007.

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