segunda-feira, 14 de junho de 2010

MEIOS DE COMUNICAÇÃO DE MASSA: CONSTRUINDO SUBJETIVIDADE

MEIOS DE COMUNICAÇÃO DE MASSA: CONSTRUINDO SUBJETIVIDADE


Artigo Acadêmico
Odilon Manske
18/01/2007


RESUMO


Meios de comunicação de massa: construindo subjetividade diz respeito à formação do Eu e o seu relacionamento com a sociedade num cenário cada vez mais globalizado. Principalmente as influências negativas da mídia na formação do individuo e as contradições inerentes contidas no apelo ao consumismo que leva a novas patologias sociais e a problemática implicada na escolha profissional.

Palavras-chave: Mídia; Consumismo; Subjetividade.


1 INTRODUÇÃO

Com este trabalho pretende-se analisar a cultura de massa veiculada principalmente pela televisão enquanto potencial alienador do indivíduo, que através dela passa-se a imagem de atrelar toda realização humana ao dinheiro e ao status.

Através dos embutidos da comunicação de massa, produzidos em tempo recorde e ininterruptamente, somos levados a crer em um ideal estereotipado de ser, uma mera simbologia que nada diz ou traduz do nosso cotidiano, mas que produz sintomas colaterais como desejos de ter e ser que nunca está em dia com o próprio desejo do Eu, porque desse nada sabemos. Somos portanto, bombardeados com todo tipo de informações e apelos e, no entanto sabemos apenas o que simbolizam, nada sabemos sobre o próprio desejo e tampouco do desejo do Outro.

Isso também tem suas implicações na escolha profissional, que configura-se como fenômeno multideterminado socialmente, influenciam fatores familiares, culturais, econômicos, educacionais e principalmente valores estereotipados transmitidos pela mídia. Neste contexto tentaremos enfatizar a influência dos meios de comunicação de massa, com supremacia da TV, que conseguem envolver outros determinantes da escolha profissional.


2 APOLOGIA AO CONSUMO E EXCLUSÃO SOCIAL

A visão mítica, repassada através da mídia, sobre a capacidade do sistema de mercado e da tecnologia de possibilitar a acumulação ilimitada de riqueza que realiza todos os desejos humanos tem dois problemas fundamentais. O primeiro é a negação dos limites dos recursos naturais e do sistema ecológico. Limites que revelam a impossibilidade da acumulação ilimitada.

O segundo é a noção de desejo reduzido à relação sujeito e o objeto do desejo, e a escassez de bens como o único obstáculo da satisfação de todos os desejos. Quando (Fukuyama, 1992) associa o acúmulo ilimitado com a satisfação de um conjunto sempre crescente de desejos humanos, ele reduz a estrutura do desejo humano à relação sujeito e objeto de desejo e a escassez como fruto da falta de desenvolvimento técnico e da implementação plena do sistema capitalista. Entretanto, logo depois ele próprio reconhece que a estrutura do desejo não é meramente objetal, reduzido à relação sujeito e o objeto de desejo, mas é mimética. Ele diz, baseando-se em Hegel, que os homens como animais, tem necessidades naturais e desejos de objetos externos, como a comida, bebida e abrigo, mas que "o homem difere fundamentalmente dos animais, porque [...] deseja o desejo dos outros homens, ou seja, quer ser 'reconhecido'. Especialmente, quer ser reconhecido como ser humano, isto é, como um ser com certo valor ou dignidade."

Ora, se o homem deseja o desejo dos outros homens, dos seus modelos, isto é, se o seu desejo é mimético ele não pode realizar todos os seus desejos através da acumulação ilimitada de bens, mesmo que esta acumulação ilimitada fora possível.

Um primeiro fato que devemos ter claro é que a exclusão social não é uma exclusividade dos países do Terceiro Mundo. Se tomarmos como exemplo o continente americano, percebemos à primeira vista dois blocos bem distintos: a América do Norte (EUA e Canadá) e a América Latina. Mas em ambos blocos encontramos algumas situações semelhantes. Entre estas, o que mais se destaca é a grande concentração de riqueza e o contraste que está se dando entre os bolsões de riqueza no meio de um mar de pobreza (nos países da América Latina) e entre bolsões de pobreza no meio da riqueza (na América do Norte).

Se por um lado um número cada vez maior de pessoas na América Latina estão sendo excluídos do mercado e, por isso, dos frutos do desenvolvimento, das condições de uma vida digna e, o pior, até da própria possibilidade de sobrevivência, por outro lado alguns países da América Latina experimentam no momento, por conta de políticas econômicas e sociais bem sucedidas, grandes avanços na inclusão econômica e social.

Estar excluído do mercado não significa, entretanto, estar excluído da sociedade e do alcance dos meios de comunicação de massa que socializa os mesmos desejos de consumo. Temos assim a trágica situação onde os pobres, crianças, jovens e adultos, são estimulados a desejarem o consumo de bens sofisticados e supérfluos, ao mesmo tempo em que lhes é negada a possibilidade de acesso à satisfação das necessidades básicas para a sua sobrevivência digna.

É este o aspecto cruel do papel da mídia, principalmente através dos apelos de consumo engendrados pela televisão, que leva uma grande parcela da população, principalmente os jovens, a desejar o que não pode ser adquirido de forma lícita, abrindo caminho para a marginalidade. Esse é por outro lado também o fator alienante, onde as pessoas desconhecem os verdadeiros desejos, que deveriam ser pautados pela vida em sociedade, respeito à natureza, valores éticos e solidariedade.


3 INFLUÊNCIA DA MÍDIA NA ESCOLHA PROFISSIONAL

A escolha profissional configura-se como fenômeno multideterminado socialmente e, em sua problemática transitam fatores de ordem familiar, cultural, econômica, educacional e das diversas relações que compõem a rede social em que o sujeito se insere. A sociedade se constitui como produção histórica dos homens que, através do trabalho, produzem vida material. Tudo o que se refere ao sujeito está em consonância com o que ele presenciou, experimentou e vivenciou. A escolha é multideterminada na medida em que o próprio sujeito que escolhe é multideterminado.

No campo das determinações sociais, ganha cada vez mais saliência a presença cotidiana dos meios de comunicação social. Estamos vivendo a época da supremacia do consumo de modelos idealizados, atente-se ainda para os modelos profissionais idealizados, estereotipados, veiculados pela mídia. A supremacia da televisão, que tem refletido e contribuído para o sistema social excludente, tem um potencial alienador e essa alienação torna-se evidente no momento crítico da escolha profissional. Surgem aí, ansiedades que estão em grande parte relacionadas com a falta de informação, com o desconhecimento de papéis profissionais e do significado do trabalho numa sociedade.

O marketing educacional alimenta e reforça valores como o individualismo e a competitividade, responsabilizando unicamente o indivíduo pelo alcance do sucesso. Tais valores veiculados permeiam a gama de relações em que o sujeito se constitui, subjetivando significados na constituição de sentidos sobre trabalho e sociedade, sendo que tais sentidos interferem na problemática da escolha da profissão. É comum ver nas novelas e em programas de televisão, a exibição de personagens que encarnam estereótipos profissionais ou mesmo caricaturas como a da enfermeira boazinha, o médico sacerdote, o sociólogo subversivo e o psiquiatra louco, deixando-se passar despercebido o contexto real do exercício de cada um destes papéis profissionais, contribuindo assim para a construção de idéias equivocadas ou preconceituosas sobre profissões e sobre o próprio mercado.

Desse modo, a influência da mídia e dos ideais de ser veiculados por ela correlacionam-se intimamente com um dos pontos fundamentais da problemática de escolha profissional: o desconhecimento da realidade profissional, de mercado, do significado do trabalho como atividade social. Esse é, então, um ponto de grande interesse a ser considerado pela orientação vocacional/profissional.


4 CONCLUSÃO

Com a abordagem desse estudo, concluímos que os meios de comunicação de massa influenciam enormemente na construção das subjetividades. Através de novelas, apelos de consumo, filmes e séries produzidos para a televisão o homem cria valores e formas de ser que não refletem o cotidiano no qual estamos inseridos. Somos entorpecidos com valores de ter e ser, simplesmente para a manutenção do status quo, que nada dizem de nos mesmos, e muito menos dos outros.

Vimos ainda, que as escolhas profissionais dos nossos jovens muitas vezes estão relacionadas com o ideal fictício propagado através da mídia, onde as capacidades reais e a vocação ficam em segundo plano.

Por se tratar de um tema tão complexo, dinâmico e abrangente faz-se necessário um estudo mais profundo, com o intuito de trazer à tona também os aspectos positivos que os meios de comunicação de massa proporcionam para o homem moderno.


5 REFERÊNCIAS

FUKUYAMA F. O fim da História e o Último Homem. Rio de Janeiro: Rocco, 1992.

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