segunda-feira, 14 de junho de 2010

A ESTATÍSTICA NO COTIDIANO ESCOLAR

A ESTATÍSTICA NO COTIDIANO ESCOLAR


Artigo Acadêmico
Odilon Manske   20/11/2008


RESUMO

A estatística no cotidiano escolar, relaciona-se com a coleta dos mais diferentes dados pelo corpo docente no ambiente escolar. Porém, estes dados que são transformados em taxas, índices, gráficos e tabelas não atestam a qualidade do ensino atual. Para que isto ocorra é necessário um olhar sociológico que seja capaz de gerar pesquisas amparadas em entrevistas populacionais que levem em consideração os aspectos sócio-econômicos de toda a comunidade escolar.

Palavras-chave: Coleta de dados; Ambiente escolar; Desempenho escolar.


1 INTRODUÇÃO

Há muito tempo a humanidade vem-se utilizando da estatística enquanto método para quantificar, medir, analisar e interpretar. Processos estes que possibilitam o conhecimento real de fenômenos naturais, bem como estes advindos da atividade humana, contribuindo desta forma para a tomada de decisões que poderão melhorar determinada situação.

Assim também a estatística é utilizada no ambiente escolar onde ela poderá desempenhar mero papel de formalidade burocrática quando utilizada simplesmente para elaboração de controle de rendimento escolar, como poderá servir para transcender a partir dos dados numéricos (índice de repetência, evasão, aprovação etc.), de encontro à soluções duradouras que englobem uma práxis diferenciada, voltada ao cotidiano da própria escola. Para que isso ocorra, faz-se necessário conhecer os alunos sob todos os aspectos.

No entanto, é fundamental que junto ao levantamento de dados relativos ao rendimento escolar se proceda com levantamentos do ponto de vista sociológico, que contemple aspectos sócio-econômicos da comunidade escolar, permitindo desta forma elaborar estratégias que permitam a redução das taxas de evasão, solidificando a inclusão escolar.

Cabe questionar se a prática de coleta de dados e sua tabulação no ambiente escolar contribui efetivamente para a melhoria geral do ensino no país. A nosso ver não está em jogo somente as taxas de repetência, aprovação e evasão escolar. Ao invés disto seria fundamental utilizar a estatística para atestar a qualidade do ensino na sua totalidade. Ou seja, ela deveria ser utilizada para trazer luz de como é a qualidade dos que concluem o ensino fundamental, médio e superior.


2 A ESTATÍSTICA APLICADA NO AMBIENTE ESCOLAR NA REDE PÚBLICA MUNICIPAL DE ENSINO

A estatística gerada no cotidiano escolar é a soma de todos os dados coletados pelo corpo docente da escola. Desde a quantidade de alunos no dia, o número de folhas, professores presentes e ausentes, as notas de avaliações, pais presentes em reuniões, número de alunos que participam da merenda escolar, alimentos consumidos mensalmente na merenda, períodos de horas/aula bimestrais, entre outros.

Já os dados referentes ao controle do rendimento escolar que dizem respeito à matrícula geral, aprovados, reprovados, evadidos, transferidos e a matrícula real no final de cada ano letivo são gerados pela secretaria da escola.

Tratando-se da estatística do controle do rendimento escolar no ensino público municipal, os mesmos são remetidos às respectivas Secretarias Municipais de Educação, onde é gerado um índice municipal do rendimento escolar anual.

A partir desse índice são estabelecidas as metas para o rendimento escolar do próximo ano, visualizando um aumento do índice de aprovação e permanência dos educandos nos respectivos estabelecimentos de ensino. Desta forma as estatísticas geradas coadunam com os parâmetros estabelecidos pela Política Nacional de Educação, adotada pelo MEC.

Assim sendo, o resultado dos dados estatísticos nada dizem a respeito da qualidade da educação do país. Muito mais atendem aos interesses políticos que alardeiam sobre a redução das taxas de evasão escolar, de repetência e por fim sobre o incremento da inclusão escolar.

Desta forma, as escolas que não alcançam os índices mínimos pré-estabelecidas devem desenvolver um programa de melhoria educacional. Isto posto, é práxis corrente das direções de escolas municipais induzirem o corpo docente a valorizar mais o número do índice de aprovação a real aprendizagem do aluno, causando muitas vezes um ensino deficitário. Ainda de acordo com Carvalho (2001), “as estatísticas, as taxas, os índices, os gráficos e as tabelas são cada vez mais tomados como sinônimo de verdade final e incontestável, como prova cabal desta ou daquela afirmação ou como arma em disputas de poder, privilégio e prestígio”.

Isto prova que a estatística atualmente aplicada no cotidiano escolar, ao invés de mediar as ferramentas necessárias para viabilizar mudanças eficazes e duradouras, nada mais é do que aferir números frios e evasivos que atendem determinados interesses.


3 A ESTATÍSTICA COMO FERRAMENTA EFICAZ PARA CONSTRUIR UMA EDUCAÇÃO DE QUALIDADE

O corpo docente que gera todos os dados pertinentes à situação do aluno no ambiente escolar, deveria lançar mão também de uma visão sociológica; não só do aluno, mas sobre toda a comunidade escolar. Nestes termos, faz-se necessário a pesquisa sócio-econômica do membro estudantil que vá de encontro ao verdadeiro sujeito, que é o aluno, fornecendo desta forma as ferramentas adequadas para formular estratégias personalizadas no que diz respeito à relação professor x aluno.

Contudo, entendemos que esta práxis é extremamente complexa do ponto de vista de sua aplicação. Uma vez que uma grande parcela do corpo docente coaduna com os preconceitos do status quo estabelecido, impossibilitando desta forma o conhecimento real do objeto a ser pesquisado.

No entanto, algumas práticas de coleta de dados que dizem respeito à situação nutricional dos alunos, podem ser gerados, por exemplo, pelos professores de Educação Física, quando da medição de crescimento e pesagem periódica dos alunos, elaborando gráficos comparativos de evolução. Expressando através deles, o conhecimento do hábito alimentar da população e do aluno, permitindo a sugestão de possíveis mudanças no conteúdo das disciplinas específicas que tratam da questão nutricional. Podendo influenciar inclusive na melhoria da alimentação no espaço escolar.

Para que a estatística funcione enquanto ferramenta de conhecimento da realidade populacional e seja utilizada para alavancar mudanças qualitativas, é necessário reconsiderar a situação atual do corpo docente.

Vivemos numa realidade em que o professor é mal remunerado, sendo que muitos cumprem uma carga horária de 40 a 60 horas semanais, quando a realidade deveria ser uma carga horária de 20 horas, com o salário de 40 horas, possibilitando a utilização do tempo restante para pesquisa, formação, elaboração dos planos de aula e correção de trabalhos.

Além dos aspectos econômicos desfavoráveis, o professor encontra-se muitas vezes em um péssimo ambiente de trabalho, com salas superlotadas, instalações precárias, direções escolares autoritárias, deficiência de materiais e equipamentos entre outras coisas.

Se por um lado a sociedade demanda e exige mudanças substanciais que contemplem a qualidade de formação dos nossos alunos, por outro lado, a realidade atual do corpo docente não permite estas mudanças, que exigem, sobretudo, um dinamismo Hercúleo voltado a uma práxis criativa e inovadora.

Neste aspecto somos obrigados a concordar que no presente momento a grande maioria dos educadores simplesmente geram números, em que o próprio aluno se funde como um número a mais, impossibilitando transcender a partir deles para construir uma nova prática educativa.

Portanto, mudanças estruturais profundas na educação se fazem necessárias, em que a qualidade do ensino deve estar em primeiro lugar, permitindo o uso e o incremento da estatística no ambiente escolar enquanto ferramenta racional viva para proporcionar mudanças qualitativas no processo de ensino-aprendizagem.


4 CONCLUSÃO

Os dados estatísticos no ambiente escolar, coletados pelo corpo docente, cumprem geralmente mera função de controle de materiais, desempenho escolar dos alunos entre outros. Os dados referentes ao controle do rendimento escolar de toda a escola são gerados pelas respectivas secretarias das escolas.

Porém, através destes dados não é possível atestar a qualidade do ensino, eles são utilizados simplesmente para estabelecer metas a serem alcançadas de acordo com a política estabelecida pelo MEC, atendendo desta forma os interesses políticos do Estado.

No entanto, a estatística pode desempenhar papel importante no ambiente escolar a partir da coleta de dados através de pesquisas que contemplem entrevistas sob o ponto de vista sociológico com a comunidade escolar, podendo aferir assim números confiáveis sobre a realidade sócio-econômica do meio, possibilitando um relacionamento dialógico diferenciado e personalizado entre professor e aluno.

Para que isso ocorra, mudanças estruturais que envolvam todo o sistema de ensino se fazem necessárias, uma vez que a complexidade envolvida neste processo é muito grande.


5 REFERÊNCIAS

CARVALHO, M. P. Estatísticas de desempenho escolar: O lado avesso. Disponível em: . Acesso em 20 nov. 2008.

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