quarta-feira, 28 de abril de 2010

Aprender a Ser

APRENDER A SER




Odilon Manske
22/02/2007


RESUMO

Aprender a ser como um dos Quatro Pilares da Educação se relaciona com todos os aspectos da formação total do homem. Numa época em que transformações tecnológicas em todos os campos se processam com grande rapidez, assim como o acirramento dos problemas globais, obrigando a transformações no que ensinar e em como ensinar.

Palavras-chave: Educar; Ser; Transcender.


1 INTRODUÇÃO

Situaremos este trabalho dentro de uma visão dialética entre ser e porvir.

Tentaremos ainda resgatar o conceito socrático de educar como algo atemporal que é a busca da verdade mais profunda e trazer à luz as potencialidades que em nós existem, tal como a semente que necessita apenas de certas condições exteriores para que, o que nela está contido como essência, se possa transformar em planta e florescer.

Isso tem suas implicações no atual modelo de ensino. Para atingir os objetivos deste conceito de educação é necessário que o aluno seja visto como único sujeito, com suas crenças e concepções próprias e no contexto de ensino atual isso beira à utopia. Pois como pode o professor, mal remunerado, ver o aluno como sujeito individual dotado de singularidades com classes superlotadas. Além do professor não ver este aluno individualmente, este aluno não se sente acolhido suficiente pelo professor, pois não recebe a atenção que deseja, necessita e gostaria de ter, já que a afetividade é parte do processo da construção do conhecimento. Pois o desejo de aprender deve ser desenvolvido no interior do aluno para que este possa mobilizar sua atividade intelectual.


2 DIALÉTICA ENTRE SER E PORVIR

Procuramos entender o “ser” enquanto dialética entre a existência do homem e o porvir. Por um lado o homem intenta uma busca permanente para realizar aquilo que ainda não é, por outro lado, existir é construir um projeto, em que aprender a ser requer o seu poder de transcender sobre o mundo e sobre si mesmo. Portanto, ser em si não é algo terminado, concluído ou absoluto, mas algo a ser negado eternamente pelo porvir. Sem essas prerrogativas o eu no homem comum é destruído, arruinado, dissolve-se na massa humana, no censo comum. Em vez de tornar-se si mesmo, ele torna-se aquilo que os outros desejam, revelando sua impessoalidade no cotidiano, o abandono do próprio eu diante da opressão do mundo como um todo.

Para escapar dessa alienação somente a educação pode dar a resposta. Somente através dela o homem pode aprender a transcender, pois ele é o único ente capacitado a atribuir um sentido ao ser (ser enquanto ser no mundo), plutonizando (rebaixar; extinguir) dessa forma a subjugação da ditadura do impessoal, alienada, radicalmente distraída de seu sentido fundamental, recobrando sua autenticidade perdida ao encontro consigo mesmo.


3 O EDUCAR COMO FATOR DETERMINANTE NA FORMAÇÃO DO HOMEM

Seria um erro se tomássemos o “aprender a ser” como algo isolado, devemos situá-lo dentro da totalidade dos quatro pilares da educação, pois existe uma dinâmica de interdependência.

Neste contexto, educar deveria ser o despertar da verdade mais profunda que existe em nós, para que seja possível o desempenho da própria função não só na vida social, mas, sobretudo para podermos nos situar no mundo. No entanto, cada sociedade em momento determinado do seu desenvolvimento, possui um sistema de educação que se impõe aos indivíduos de modo geralmente irresistível, voltado exclusivamente para reproduzir o status quo. Passando a impressão de que é impossível educar os nossos filhos sob a ótica de um desenvolvimento total.

Vivemos num mundo cada vez mais conturbado, seja pelos conflitos regionais, ou pela degradação da natureza, aquecimento global, problemas étnicos, criminalidade, drogas, prostituição, fome, epidemias e uma globalização muitas vezes injusta aos países mais fracos economicamente. E por outro lado, vemos o ser humano alheio a tudo isso, sociedades inteiras coniventes frente a esses problemas, como se não fossem seus, isso pode ser um erro fatal, pois o que está afetando as pessoas hoje em determinas regiões ou países pode vir a me afetar amanhã.

É sob este prisma que a educação moderna deve atuar. Existe certa banalização em relação a estes problemas globais, onde a mídia desempenha papel fundamental. Reportamo-nos principalmente aos noticiários televisivos, onde geralmente são mostradas tragédias ecológicas, guerras, conflitos, epidemias, criminalidade nua e crua, sem dar uma visão do porque da origem disso.

Exemplo clássico é o conflito entre palestinos e israelenses ou ainda a guerra civil no Iraque mostrado dia após dia pela mídia, onde somos confrontados com atentados, mortes e todo tipo de insanidades. Fala-se do Hamas, Fatah, Likud e outras organizações no caso do conflito dos palestinos com os israelenses, assim como dos sunitas, xiitas e curdos no caso do Iraque, como algo corrente, como meras figuras num tabuleiro de xadrez. Mas não se conta a história real desses povos e países envolvidos e muito menos sobre a real origem desses conflitos e o papel de cada um desses grupos naquelas sociedades. 

Este é o aspecto sombrio da mídia, que além de não dizer nada sobre a raiz dos problemas, ainda desempenha papel alienante na medida em que vende imagens prontas, contribuindo dessa forma para a banalização dos problemas.

O século XXI clama por uma estratégia globalizada de educação, onde os quatro pilares devem ser aplicados na íntegra, visando a formação de um novo ser humano. Um homem mais solidário, ético, cooperativo, questionador, detentor de toda uma gama de conhecimentos sobre história, cultura geral e sobre tudo geografia humana, para que ele detenha as ferramentas para pensar globalmente e possa agir localmente dentro de uma visão humanizadora e emancipatória.

Entendemos que a educação, no mundo de hoje, deve priorizar o florescimento total do ser humano segundo a sua individualidade e sua potencialidade. “Deve-se perceber, que o indivíduo é único, pois cada um tem uma história de vida diferente e, que os motivos que despertam o desejo em aprender em um possa não despertar em outro” (CHARLOT, 2000). Portanto, algo que deve vir de dentro, o aluno deve ser motivado a aprender a aprender se conhecer para poder explorar toda a sua riqueza interior.

Para que isso se concretize é necessário repensar o papel do educador, uma reciclagem se faz necessária, sendo através de cursos de formação, palestras, seminários e outras formas de incrementar o seu conhecimento. Ou seja, ele deve ser conduzido a se redescobrir e somente assim poderemos vir a ter um educador verdadeiramente motivado para cumprir o seu papel de parteiro do saber. Hoje, as dificuldades se relacionam com a própria formação dos educadores. Pois esta formação também não se efetivou no sentido da formação total. Levando-se em consideração ainda que em muitos casos o educador não o é por vocação, por escolha consciente, do que ser e fazer. Mas talvez impulsionado pela conveniência do único curso oferecido na época de sua formação ou ainda das dificuldades financeiras de fazer um curso naquilo que realmente queria ser profissionalmente. Resultando disso muitas vezes sentimentos de frustração, complementadas pela baixa remuneração e péssimas condições de trabalho.


4 CONCLUSÃO

Para escapar da alienação, do censo comum, do “ser” do homem mediano e libertar-se do jugo do impessoal, faz-se necessário transcender sobre o mundo e si mesmo, para redescobrir a verdadeira essência que existe em cada ser.

E é desde a mais tenra idade que devemos, através do processo de educar, fazer com que as crianças exteriorizem todas as suas potencialidades, para que através delas elas possam desenvolver suas aptidões nos diversos campos do saber, oportunizando assim a sua total formação.

Esse início de século abre-se com inúmeras incertezas e medos, inclusive o que diz respeito à própria sobrevivência do homem no planeta. Para fazer frente a todos estes problemas, é crucial o advento de uma nova consciência que priorize valores como a solidariedade, concórdia, paz, cooperação, ética e principalmente indignação coletiva frente aos flagelos e injustiças sociais.

No entanto, o nosso modelo atual de ensino está longe de contemplar estas prerrogativas. Necessitamos urgentemente de reformas que contemplem o papel do educador, com cursos de capacitação, melhor remuneração, menos períodos de aula e um número máximo de alunos por sala de aula. Somente assim ele poderá desempenhar sua função em toda plenitude. E aí talvez, numa bela manhã de segunda-feira, ele entre na sala de aula e diga assim aos seus alunos: eu estou aqui porque vocês me amam.


5 REFERÊNCIAS

CHARLOT, B. Da relação com o saber: elementos para uma teoria. Porto Alegre: Artmed, 2000.

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